segunda-feira, 11 de abril de 2011

Adaptações de quadrinhos para o cinema

Alan Moore, esse é o cara!
Na sabedoria popular, uma das categorias de maluco é o “louco de rasgar dinheiro”, um cidadão tão pancada que não dá a menor importância para opiniões, valores, ou seja, lá o que venha de outras pessoas.
Alan Moore, desenhista e roteirista britânico, é um dos artistas cujos roteiros de quadrinhos estão entre os mais requisitados na indústria do cinema. E também é o mais avesso às adaptações de quadrinhos no cinema, chegando a abrir mão de todos os direitos sobre as histórias só para não ter seu nome envolvido com as produções.

Seria Alan Moore um louco de rasgar dinheiro? 

Vejamos...

Moore nasceu em 18 de novembro de 1953, em Northampton num meio muito pobre, social e financeiramente. Aos 18 anos, desempregado e sem nenhum treinamento, resolveu começar um projeto de revista chamado Embry com alguns amigos o que o levou, em 1979 a trabalhar como cartunista numa revista de música. Decidiu que como desenhista tinha pouco talento, focando seus esforços em roteirização. Nesse período criou sua primeira e comentada série: V de Vingança.
Não demorou a executivos de grandes editoras, especialmente a DC Comics, perceberem um grande talento. Como Midas, Moore transformava em ouro tudo o que caia em suas mãos. E pelas suas mãos passaram O Monstro do Pântano, Superman, Lanterna Verde e finalmente Watchmen, considerada por muitos a melhor história em quadrinhos de todos os tempos.
A partir do renascimento dos filmes baseados em quadrinhos, não demorou para que o cinema batesse à porta de do roteirista. Agora, para tentar responder à questão da loucura, aqui vai a lista de filmes baseados em histórias desse grande artista, seguidos de citações do próprio sobre as adaptações. As conclusões ficam a cargo de vocês.

Do Inferno – From Hell, EUA (2001)

Na HQ, Alan Moore deu uma nova visão ao famoso caso de Jack, o Estripador. A produção não é ruim, na verdade, mas as adaptações feitas para as telas acabaram descaracterizando em muito o trabalho original. Vale ressaltar que o próprio Moore foi chamado pelos diretores Albert e Allen Hughes para uma conversa, o que parecia promissor. A quantidade de alterações nessa primeira adaptação à sério de um trabalho do autor deve ser a principal responsável por Moore torcer o nariz para toda e qualquer tentativa de levar um trabalho seu às telas.
A visão de Moore: "Não consegui passar dos primeiros 10 minutos e não tenho a intenção de fazê-lo. Simplesmente quero distância disso porque não foi uma adaptação fiel do meu trabalho."

A Liga Extraordinária – League of Extraordinary Gentleman, EUA (2003)

Fantástica história onde Moore imagina uma agência secreta do governo britânico que reúne nomes lendários como Alain Quatermain, Mina (de Drácula), Dorian Gray e o Dr. Jeckyll para lutar contra um gênio do crime que quer conquistar o planeta. O problema todo começa na escalação de Sean Connery para viver Quatermain. Nos quadrinhos, Quatermain é um mero coadjuvante. Connery EXIGE que o papel seja aumentado para que ele participe do filme. O resultado é que ele acaba virando protagonista, desvirtuando toda a história.
Uma pena, Moore realmente acreditava que esse roteiro tinha estrutura para virar filme.
A visão de Moore: "Houve tantos incidentes com esse filme que eu pensei que a melhor atitude a tomar seria recusar todo o dinheiro, repassá-lo ao desenhista e retirar meu nome dos créditos do filme. E isso se tornou constante."

V de Vingança – V for Vendetta, EUA (2006)

Os Wachowskis – diretores de Matrix – juraram de pés juntos que queriam fazer uma versão absolutamente fiel à história de Moore passada numa Inglaterra distópica, onde um rebelde mascarado dedica a vida a derrubar um governo fascista. Na verdade o resultado se aproxima bastante do original. Mas Moore, que já estava ressabiado, foi apunhalado pelas costas na questão de direitos autorais. Foi a pá de cal que faltava em sua opinião sobre adaptações para o cinema.
A visão de Moore: "Depois de repassar meu dinheiro ao artista, a DC e a Warner acharam de colocar meu nome nos créditos. Um de seus produtores ridículos, Joel Silver, anunciou uma mentira irritante de que eu estaria incrivelmente empolgado com o filme e que estava conversando com ele e com os Wachowskis. Foi o início de uma briga de quase um ano bastante chata. Depois, no fim do ano, eles me mandaram um papel dizendo que iriam tirar meus nomes dos créditos."

Watchmen – idem, EUA (2009)

Para muitos, a maior história em quadrinhos de todos os tempos. É extremamente complicado resumir em poucas linhas do que se trata a história pela quantidade impressionante de subtramas que compõe um riquíssimo universo. Basicamente é a história de um mundo à beira do colapso num futuro paralelo onde vigilantes mascarados – e suas consequências no mundo real – são parte do cotidiano.
O problema com a adaptação, citando Moore quando começou a se cogitar uma adaptação para o roteiro, é justamente a quantidade de microhistórias  absolutamente necessárias que compõe um universo maior. Moore abriu mão dos direitos sobre a história, não quis ver seu nome vinculado à produção, e não quis assistir nem ao trailer.
Uma curiosidade: o diretor Terry Gillian cogitou adaptar a história para o cinema ainda nos anos 80. Depois de conversar com Moore, Gillian abandonou o projeto.
A (extensa) visão de Moore:
"- Sobre Zack Snyder (diretor): Ele pode até ser um cara legal, mas o negócio é que ele fez 300. Não vi os últimos filmes de quadrinhos, mas particularmente não gostei da HQ 300. Tenho vários pontos a criticar, e tudo que ouvi ou vi sobre o filme parece ter incrementado as críticas, ao invés de reduzi-las: que é algo racista, que é homofóbico e, acima de tudo, totalmente idiota.
- Dave Gibbons me ligou, e é sempre bom conversar com Dave, mas ele compreende que não estou interessado em Watchmen. Ele perguntou se eu estaria interessado em ser mantido informado sobre o filme, e eu respondi que era sempre bom falar com ele, mas não estava interessado. Não sei muito sobre o filme. Sei que estão seguindo em frente. Não assistirei, obviamente.
- Há coisas que fizemos em Watchmen que só funcionariam em um gibi, e inclusive foram projetadas para mostrar coisas que outras mídias não conseguem.
- O que posso lhe dizer é que vou ficar cuspindo veneno por tudo [relacionado ao filme] nos próximos meses.
- Acho que o cinema na sua forma atual é muito prepotente. Ele nos dá comida na boca, o que dilui nossa imaginação cultural coletiva. É como se fôssemos passarinhos recém-saídos dos ovos olhando pra cima, com nossas bocas bem abertas, esperando que Hollywood nos alimente com um vômito de vermes. O filme de Watchmen parece mais vômito de vermes. Eu, pelo menos, cansei de vermes."

Para finalizar, Moore afirma ter aberto mão de pelo menos US$ 77 mil referentes a direitos de adaptação de seus roteiros para os cinemas. Essa quantia, vale dizer, é a que ficou sabendo. Quando abriu mão definitivamente dos seus direitos, Moore simplesmente desencanou de fazer as contas.  
Alguém aí se arrisca a dizer quanto dinheiro o roteirista já rasgou até hoje?

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