terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Corra Lola, Corra

“A bola é redonda.
O jogo dura 90 minutos.
Isso é um fato.
Todo o resto é teoria.”
(Fala do guarda antes do filme propriamente dito começar)

“Corra Lola, Corra” é um filme inovador em todos os aspectos, pois rompe com os paradigmas e estereótipos característicos das produções alemães. Utilizando-se de um roteiro dinâmico e excelentes planos de filmagens, o filme adquire uma aparência “pop” com a utilização de animações em certas partes, tornando-se bastante atraente aos olhos dos espectadores, porém sem perder a profundidade e possibilitando uma pluralidade de interpretações.

Basicamente, o filme é dividido em três partes onde tudo gira em torno do mesmo acontecimento que é realizado de três diferentes maneiras. Tudo começa quando Lola (Interpretada por Franka Potente – uma das mais talentosas atrizes da nova geração germânica) recebe um telefonema desesperado de seu namorado Mani (Interpretado por Moritz Bleibtreu) que simplesmente precisa arranjar 200 mil marcos em apenas vinte minutos, por isso pede para que Lola arrume tal quantia e leve-a até seu encontro dentro do prazo estipulado. “Corra Lola, Corra” se trata de uma corrida contra o tempo, demonstrando a originalidade do roteiro que brinca com o livre-arbítrio e com as causalidades do cotidiano.

As corridas de Lola pela cidade são sempre embaladas por uma trilha sonora tecno, conferindo um tom de agilidade para as seqüências. Porém não vou cair no erro de forçar uma comparação entre essa pérola do novo cinema alemão com um mero video-clip da MTV, criados a serviço de uma cultura massificada com interesses mercadológicos, como muitos fazem.

Sucintamente, o filme poderia ser contado apenas deste modo. Porém ele aborda temas muito mais complexos do que uma simples corrida pelas ruas da Alemanha. É possível estabelecer uma conexão possível e bastante válida, se utilizando de um dos pensamentos mais complexos do filósofo germânico Nietzsche, para explicar as sucessivas vezes que Lola realiza a mesma cena, porém todas terminando de um modo diferente até que o objetivo da personagem seja alcançado.

O pensamento em questão é o “Eterno Retorno”, e um de seus aspectos diz respeito aos ciclos repetitivos da vida: Estamos sempre presos a um número limitado de fatos, que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro. Pois considerando-se o tempo infinito e as combinações de forças conflitantes que formam cada instante finito, em algum momento futuro tudo se repetirá durante todo o infinito.

A pergunta chave para esse pensamento é: Amamos a nossa vida a ponto de querer repeti-la infinitamente? Revivendo de maneira repetitiva todas as dores, perdas, alegrias, frustrações e felicidades? Será que você é capaz de responder? Pois Lola respondeu, ela opta por viver infinitamente, modificando suas escolhas até alcançar o que deseja.

E não é apenas o curso do destino de Lola que é alterado, durante suas corridas ao esbarrar com meros transeuntes, uma seqüência de acontecimentos é revelada através de flashs bem rápidos e durante as três histórias esses acontecimentos se alteram, mostrando como o destino das pessoas é influenciado pelas escolhas de Lola.

Outro fato bem explorado pelo diretor é a questão do Deja Vú, pois mostra como Lola se lembra de acontecimentos que haviam acontecido em alguma parte das três histórias. (por exemplo: como destravar a arma, pois em uma história ela não sabia e na outra ela já destravara) Ela se lembrava de certos detalhes pois já havia vivenciado aquela situação ou alguma outra muito parecida.

“Corra Lola,Corra” mostra que além de ser um filme empolgante e uma grande aventura pelas ruas da Alemanha, traz à tona um pensamento filosófico que nos faz pensar sobre a nossa existência. E para ser melhor entendido, o filme deve ser assistido mais de uma vez.

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